Ele já deve estar sentindo-se como o então vice-presidente Itamar Franco, desprestigiado - e às vezes até menosprezado - na função pela presidente Dilma Rousseff, tendo até escrito u'a carta a ela reclamando disso e dizendo que ele estava sendo - mesmo - um 'vice decorativo'. Pois é: o general Hamilton Mourão, presidente do Conselho da Amazônia, pensou em pedir ao presidente Jair Bolsonaro (Ufa! Vai passar...) para chefiar a representação brasileira na COP-26, conferência do clima da ONU, em novembro, no Reino Unido. Mas o presidente foi informado antes e ficou irritado com o seu vice, e então se antecipou, no início deste mês, ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles: "Quem vai representar o Brasil lá é você".
Esse veto do presidente Boçalnaro ao vice-presidente Mourão é o episódio mais recente na série de desgastes registrados ultimamente na relação entre os dois. Sabe-se que, em conversas palacianas reservadas, o capitão comandante-em-chefe das Forças Armadas brasileiras gostava de comentar que nunca confiou totalmente no general. No entanto, de acordo com assessores, ele agora considera seu vice quase que como um adversário. Essa relação conturbada, que tem se agravado nos últimos meses, é comparada por deputados governistas ao final do 2º mandato de Dilma, em que ela até desconfiava de Michel Temer.
Da mesma forma, o capitão tem evitado consultar Mourão sobre questões estratégicas; tem desautorizado de forma indireta declarações públicas do general; e, reservadamente, tem criticado a disposição do vice-presidente de responder a perguntas da imprensa sobre assuntos variados, muitos sem relação com suas atribuições. Inclusive, Mourão tem, no gabinete presidencial, o apelido de Walter Casagrande, o ex-jogador que fazia comentários sobre diferentes temas. Conforme assessores, Boçalnaro acha que, ao fazer declarações (muitas contrárias às dele), Mourão quer apresentar-se como uma alternativa de poder.
Porém, em conversas de Mourão com militares próximos, contadas ao jornal Folha de S. Paulo, o general sinalizou recentemente a intenção de, no começo do próximo ano, iniciar u'a reaproximação com o presidente. Seria então, para membros da cúpula militar, um gesto de pacificação estratégico. Poderia ser uma oportunidade para que o general peça ao presidente maior participação ministerial na preservação da floresta amazônica. (et)
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